quarta-feira, 7 de abril de 2010

Clube das epifanias


O gosto por determinados filmes, pra mim, é uma coisa muito pessoal. Digo isso já que muitas vezes te indicam "o filme" e você acaba por achar uma porcaria. Ou então, melhor ainda, tem filmes que você, por preconceito, acaba não assistindo por achar que deve se tratar de pura idiotice. Esse último conceito (esse último pré conceito) foi meu pensamento a respeito do filme "Clube da Luta".

Sim sim, o filme é violento, é sangrento, retrata muito da estupidez e alienação humanas mas é especialmente GENIAL. Não, eu não perdi meu cérebro na esquina e não acho que violência é o que há hoje em dia, apenas comecei a recapitular em minha mente um pouco da polêmica gerada por ele e confrontá-la com a chuva de momentos epifânicos que obtive assistindo cada cena com meus próprios olhinhos.

Lembro bem que boa parte da polêmica gerada pelo filme era relacionada à violência gratuita, no filme e na vida real, essa última supostamente incentivada pela crueldade do referido filme. Gente louca matando outras pessoas no cinema, por exemplo, foi uma das questões das quais duvidei por achar que um filme é muito pouco pra justificar a mente doentia de alguém. No entanto, a mente humana tem uma capacidade incrível de fazer imbecilidades.

Aliás, essa capacidade é um dos pontos mais intrigantes do filme, já que a genialidade do mesmo inclui o fato de um simples empregado de uma empresa qualquer acaba por fazer uma revolução em sua vida ao conhecer Tyler, um homem que condena o consumismo e encara a violência como diversão.

A violência em si não é somente o tom do filme, mas principalmente, é o ponto inicial das mudanças drásticas na vida do anônimo e personagem principal da trama e traz à tona uma série de questões.
A primeira delas é o consumismo, transformando as pessoas em escravas dos produtos que compram, ou seja, é a velha discussão do "você é o que você compra?". Essa discussão chega a ser um clichê social e aqui é levada ao extremo, levando os personagens a viverem no limite das necessidades básicas, em virtude de evitar o consumo desnecessário.

Mais do que o consumo, Tyler condena a estrutura da sociedade atual em si, a vida desperdiçada em trabalhos amargos, tristes e alienantes, os quais tem como objetivo ganhar mais dinheiro para consumir mais. Mais intrigante ainda é observar como os dois personagens chave da trama, acabam por arrebanhar diversos homens de diversos locais do país em torno da luta e da satisfação que ela representa como alivio de tensão e diversão.

Tudo isso culmina num caos em busca da libertação da sociedade, escravizada pelo dinheiro, por meio da epifania ou loucura de um único personagem. Afinal, 

"It´s only after we´ve lost everything that we´re free to do anything
(essa fala é do Tyler, Personagem do Brad Pitt)

Assista e você vai entender...



sábado, 27 de março de 2010

Não use drogas...

Devido à falta de assuntos realmente filosóficos para postar neste blog e levando-se em consideração a quantidade de drogas pesadas pra enxaqueca que tenho ingerido nos últimos 5 dias, resolvi postar esse vídeo que resume o motivo que tenho para seguir a filosofia de certo amigo meu chamado Artut Isoldi (se não se escreve assim seu nome, sorry amigo)

" Não tenho medo da morte, de assalto, de solidão, de esportes radicais... Só tenho medo de uma coisa: DE GENTE LOUCA"

Atenção para o nome da criatura (piada interna)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Vai entender....


Depois de um grande lapso de idéias, encontrei um tema sobre o qual é válido discutir. Digo lapso porque não encontrava nenhum assunto decente, com cara de revelação das boas, que merecesse estar nesse blog.

Apesar de muitos assuntos dignos de indignação estarem presentes na mídia por esses dias, o assunto emprego tem cutucado minha mente e minha vida nos últimos dias. A última grande discussão que tive com uma amiga e que continua coçando no meu cérebro é: O que as empresas procuram? Experiência em um determinado assunto, ou conhecimentos gerais? Experiência profissional sólida ou alguém sem vícios para formar?

É cada vez mais bizarramente complicado se preparar para um mercado que quer tudo e não quer nada ao mesmo tempo. Que quer alguém com conhecimento infinito sobre determinado assunto, mas que tenha visão global. Afinal de contas, é melhor se especializar no assunto do momento ou ampliar os horizontes procurando saber um pouco do maior número possível de assuntos?

Por um lado, profissionais se deparam com descrições de empregos como: Formado nesse ou naquele curso, com tais experiências, inglês e/ou espanhol fluente, que faça malabarismo enquanto redige um relatório de 3 páginas, sorri e se comunica bem. O mais impressionante é que esse profissional não usará, no seu dia a dia de trabalho, metade das habilidades profissionais exigidas no ato da contratação.

Muitas vezes, o perfil desse superprofissional é montado pensando nas habilidades gerenciais de que ele precisará no futuro e pode desenvolver no decorrer da carreira, não para a vaga do momento. Não digo que tais habilidades não sejam importantes, mas será que é o foco dessa vaga? Aí o recrutador acaba se deparando com um perfil que está além do que ele necessita. Então porque não descreve exatamente de que precisa?? Por medo de ofender possíveis candidatos?

Essa megalomania na exigência de conhecimento está trazendo confusões desnecessariamente desgastantes, tanto para quem contrata, quanto para quem procura, uma vez que existe um abismo entre o que a descrição da vaga leva o candidato a esperar da mesma e o que o recrutador realmente procura.

Talvez essa delicadeza em dizer o que não é para não ofender o candidato, acaba por piorar o problema, uma vez que quem quer empregar não acha exatamente o que quer e quem quer trabalhar não acha em que exatamente se encaixa. 

Na verdade, acho que a habilidade de comunicação está em falta mesmo nesse mercadão de meu Deus. Por que, se as pessoas fossem mais claras e diretas em sua expressão, o caminho para a união de interesses entre empregador e candidato seria mais curto. Digo isso pelo exemplo surpreendente que vivi dias atrás. No meio da entrevista, a gerente simplesmente me disse: "Vou ser franca com você. Desculpe minha sinceridade mas parece que eu e você procuramos coisas diferentes. Vejo que você procura algo em Branding, Marketing, Comunicação e você tem perfil para isso. Entretanto, o que eu tenho é uma vaga com cálculos extremamente pesados, estatística, programação, e não sei bem se é o que você procura, é?"

Foi a primeira vez que uma mulher foi sincera comigo me dizendo, sem meias palavras, e de maneira não menos educada e gentil, que eu não tinha perfil para a vaga dela, já que a área para a qual me candidatei tinha relação com Marketing, mas não era uma relação direta com a prática da área. Adorei a postura daquela mulher e passei a admirá-la. Quem dera se todos os gestores fossem decididos, porém educados como ela, sabendo comunicar de maneira precisa o que buscam no candidato. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ficção ou realidade?






 Em uma das diversas reflexões sobre a tragédia ocorrida no Haiti, comecei a observar aquelas imagens da cidade destruída, do desespero das pessoas, da Urgência quando algum sobrevivente é encontrado sobre os escombros e não pude deixar de pensar no filme Ensaio sobre a cegueira.

Não cheguei a ler o livro, o qual com certeza tem muito mais riqueza de significados e está na minha lista de leituras obrigatórias, mas em discussão com uma amiga minha que leu o livro e viu o filme, consegui perceber uma série de idéias que se relacionam simplesmente à palavra tragédia. O enredo trata sobre a reação das pessoas à cegueira de uma maneira mais profunda, relacionando a cegueira física a algo mais intrigante que é a cegueira moral, ou seja, ver o outro como um indivíduo e não um animal.

A questão é que uma vez instalada a tragédia, as pessoas passam a se comportar segundo seus instintos, como animais. Em busca da sobrevivência, percebe-se que elas não perderam somente a visão, mas perderam principalmente seus valores morais e o valor do outro como indivíduo.

O que isso tudo tem a ver com o Haiti? O Haiti também sofreu uma tragédia de proporções catastróficas e acaba por assemelhar-se ao filme exatamente pelos conceitos relacionados à tragédia. Observa-se que, num piscar de olhos, a cidade inteira foi destruída e a primeira reação das pessoas é de pânico, de desespero, de incompreensão em relação ao que acaba de ocorrer. Aí vem o choro, a dor de ter perdido alguém e a busca por pessoas conhecidas e vivas. Depois disso vem a revolta pela situação enfrentada e com ela, uma confusão sobre quais são minhas necessidades e as necessidades dos outros. Corpos são empilhados bloqueando uma rua, em protesto pelo que aconteceu. Os dias passam e as imagens são as mesmas: tudo ao seu redor está destruído, pessoas estão feridas, pessoas estão mortas, enquanto outras ainda lutam para sobreviver pedindo socorro embaixo dos escombros.

Isso me lembra o filme: uma pessoa fica cega, duas, três, a cidade toda fica cega, exceto por uma pessoa, aquela moça, uma única moça que enxerga a fase de desespero pela tragédia, o choro e a dor, a revolta e animalização, e por fim, a aceitação da tragédia e a tentativa de conviver com essa nova situação, seguir em frente. Parece que, na ficção e na realidade, algo nunca muda: o fator ser humano.

 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Meu nome não é Joseph



Esta tarde estava lendo uma série de notícias aleatórias e me deparei com essa matéria no Terra. A matéria dizia que o ator Antonio Fagundes (está certo dessa maneira?) ficou indignado ao ver que seu nome estava errado na Wikipedia. Na verdade, com o desenrolar do texto, percebe-se que a irritação desse famoso ator não é com o nome errado, mas sim com o fato de que esse erro atingiu outros pontos além web: como homenagens de colegas de trabalho que consideraram o seu nome da forma incorreta ao pesquisá-lo na Wikipedia.

A grande ironia é que ele tocou em um assunto que é discutido desde o início dessa revolução chamada internet e que continua em discussão: seria a internet o vilão ou o herói da informação? Será que uma visão maniqueísta é válida aqui? Mocinho e bandido, bem e mal, tudo depende de como você vê.

É inegável que a internet hoje protagoniza, por meio do fenômeno das redes sociais, a mais atual grande ruptura das comunicações que é a participação do indivíduo no meio de comunicação como agente e não somente como receptor passivo de comunicação. Aliás, a Wikipedia, certa ou errada, é uma das grandes vedetes dessa transformação uma vez que seu conteúdo é formado colaborativamente, isto é, qualquer um de nós, inclusive o senhor Antonio José Fagundes, pode entrar, modificar ou criar um novo artigo explicativo.

Assim, as redes sociais representam, como a Wikipedia, a liberdade que cada um de nós tem de expressar sua opinião, elogiar e criticar e acredito que isso é bom porque tende a provocar interação total entre as pessoas: uma pessoa "comum" pode emitir sua opinião sobre um trabalho de um artista e esse artista , por sua vez, pode saber a opinião do público sobre seu trabalho e utilizar essa opinião como crítica construtiva. A pergunta é: é possível fugir dessa interação? Ou ainda: é interessante fugir dessa interação?

Realmente existe um ponto delicado quando o assunto é internet e como ela, as redes sociais: não há controle. Não há controle sobre como vão escrever seu nome, não há controle sobre o que vão falar de você. E essa é a grande graça da internet: a liberdade total. E é essa mesma liberdade de escolher as páginas a visitar e escrever a opinião sobre um determinado assunto que fazem o sucesso crescente desse meio.

Além disso, a Revolução virtual está apenas começando e a interatividade é a palavra chave que todos tentam entender e aplicar daqui por diante: estudiosos das mais diversas áreas acadêmicas (de tecnologia a comunicação), empresários, profissionais, estudantes, visto que o fenômeno está ultrapassando o rótulo de modismo, interferindo na dinâmica do cotidiano em geral. Sendo assim, uma coisa é certa: errada ou não, com José ou sem, as mídias interativas vieram pra ficar e segundo alguns, como Henri Jenkins do MIT, seu futuro é a total interação com as mídias tradicionais. Será que teremos "analfabytes" por muito tempo?



terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Você vê mas não vê


"não porque não estivessem já criados desde o princípio do mundo, mas porque era este Novo Mundo, tão oculto e ignorado dentro do mesmo mundo, que quando de repente se descobriu e apareceu, foi como se então começara a ser e Deus o criara de novo". Pe Antonio Vieira, Sermão da Epifania.  






É engraçado como uma simples forma de enxergar o mundo carrega consigo uma série de significados e obstáculos para diversas outras coisas do mesmo mundo, que aliás, por outros olhos, adquiririam formas diferentes.

Nada impede que você olhe para algo velho de uma maneira nova. Uma pessoa, um lugar ou um objeto podem adquirir contornos e significados totalmente diferentes daqueles que você conhecia em apenas um minuto de contemplação, de revelação. A questão é: quando, realmente, você enxerga algo novo, dentro daquela visão cotidiana, ou simplesmente deixa de ser cego para algo que esteve ali o tempo todo?

A pessoa é nova na medida em que você acabou de conhecê-la pela primeira, pela segunda, ou sei lá qual vez que você olha pra ela, fala com ela ou a toca. Mas mesmo tendo contato físico com ela durante meses, ou até mesmo anos, poderia chamá-la de nova?

Assim nasce esse blog que tem como idéia a simples observação das coisas no momento epifânico, ou seja, no momento que, pra mim, elas tomam outra forma e outro sentido. O objetivo é dividir com aqueles que quiserem ler esse novo sentido e dar liberdade para quem quiser mostrar seu próprio minuto epifânico sobre o assunto, sua opinião